Eu me decidi. Entre o fogão e os livros. Vou ficar com os livros. Vou estudar mesmo. A partir de segunda feira. Vou estudar muito. Vou passar em um concurso público. Se estudando um pouco eu acerto +- 65%, se estudar muito acerto 100%. É a lógica. Meio mundo de pobre quer ser funcionário público. Não deve ser tão ruim. Fundação, autarquia federal, municipal, regime estatutário, salário razoável, segunda a sexta, 40 horas semanais? Isso.
Quanto a cozinha eu tenho que admitir que não tenho talento. Cozinhar eu não sei e não gosto. Fazer bolos e bolinhos e afins até acho interessante. Mas daí a saber fazer há uma grande distância. Para aprender a fazer e depois inventar coisas novas e dai pensar em montar alguma coisa vai muito tempo e muito trabalho.. E eu não disponho de todo esse tempo. E eu não quero trabalho.
Já trabalhei demais. Cinco anos. Dia e boa parte da noite. De domingo a segunda. Montei meu negócio. E ai? Fracasso. Tudo o que podia dar errado deu. Juntando isso a minha incompetência o resultado foi catastrófico. Falida , frustrada, gorda, depressiva. E o que tinha no fim do túnel? Esse trabalhinho nojento.
E de repente, num estalo, eu acordei pra vida. Comecei a desejar coisas, com as quais eu sequer me permitia sonhar. E estou aqui. Agora. Ainda. Querendo. Sonhando. Nesse buraco. Escutando Lenine.
Funcionária pública? É isso o que eu quero? É isso que eu tenho que querer agora. Eu quero ser funcionária pública. OK.
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