Avaliação


Segue abaixo o resultado desta primeira fase.

Medo

O medo funciona como o freio e como alarme do nosso sistema mental, com o fim de nos proteger dos perigos, identificar problemas e nos precaver de riscos. O medo opera de modo praticamente automático e influencia muito a maneira como percebemos e pensamos o mundo ao nosso redor a toda hora. Por isso, tem grande influência na tomada de decisões e no modo como as pessoas nos vêem. O medo tem um forte componente inato, mas também as experiências negativas, particularmente se forem freqüentes e/ou fortes e nos primeiros anos de vida, tendem a ser incorporadas no jeito de ser. Algumas pessoas têm baixo medo inato, mas o ambiente hostil ou a exposição aos perigos faz com que desenvolvam um grande medo aprendido. Nessas situações, pode haver uma grande ambivalência ou imprevisibilidade em como o medo é vivenciado. O medo relacionado a pessoas (timidez x extroversão) é um pouco diferente do medo geral, mas costumam ter níveis semelhantes, ou pelo menos, não muito distantes. O medo pode ser baixo, médio ou alto. Cada grau tem vantagens e desvantagens, mas as pessoas com o temperamento mais equilibrado e menos sujeito a ter problemas e transtornos mentais têm o medo médio.

Medo Alto

A avaliação apontou que o seu nível de medo é alto.

Esse perfil traz as características de precaução, cautela, prudência, preocupação e grande ponderação antes de tomar decisões. Em situações de perigo, tende a paralisar ao invés de reagir rapidamente. Do ponto de vista social, se o medo também foi alto, há uma tendência para inibição, timidez e preocupação com o que os outros estão pensando a seu respeito, podendo atrapalhar a formação de novos vínculos afetivos. A vantagem do perfil de alto medo é a proteção contra os riscos que a vida oferece. Nesse sentido, o perfil conservador e prudente se dá melhor nos momentos de imprevisibilidade e quando o ambiente gera perigos reais. As precauções tomadas protegem das ameaças quando elas ocorrem, o que mostra que a energia despendida para se proteger e não correr riscos foi bem empregada. A desvantagem ocorre quando o meio não está oferecendo grandes perigos, ou seja, quando o ambiente é seguro. Nessas circunstâncias, a energia que poderia ser despendida no sentido de conquistar fica mais travada e retida. Assim, oportunidades que poderiam render vantagens tendem a ser perdidas. A mente voltada demasiadamente para os problemas e preocupações tende a boicotar a energia que poderia ser direcionada a objetivos, conquistas e busca de satisfação e prazer. Do ponto de vista de transtornos psiquiátricos, o alto medo favorece o desenvolvimento de transtornos de ansiedade (ansiedade generalizada, TOC, fobias, fobia social, personalidade dependente e evitativa), mas reduz a chance de transtornos de impulsividade (transtorno de explosividade intermitente, transtorno de oposição desafiante, hiperatividade) e do uso de drogas de abuso, mas o álcool às vezes é usado para desinibir. O medo alto “puxa para baixo” e, no longo prazo, também pode aumentar a chance de desenvolver depressão. O trabalho de aperfeiçoamento do temperamento com alto medo passa por aprimorar a capacidade de identificação das situações oportunas que de fato oferecem baixo risco, e soltar um pouco mais o pé do freio nessas circunstâncias. Se a experiência dessas situações for favorável, o medo tende a diminuir um pouco, mas, se for negativa, o medo é reforçado. Pode ser útil se perguntar se durante a sua vida houve algum evento traumático ou repetitivamente negativo que fez com que o medo se generalizasse para outras áreas. Também é importante perceber que, muitas vezes, pensar e se preocupar demais não tem nenhuma utilidade se tudo que tiver para se fazer já foi feito. Para quem tem medo alto, na dúvida é melhor arriscar e ver o que acontece.

Vontade

Assim como o medo é o freio, a vontade é o acelerador. A vontade nos move para fazer o que tem algum significado afetivo para nós. Quando a vontade é muita, podemos chamá-la de desejo. Não podemos fazer tudo que queremos e, por isso, os desejos têm que ser controlados. Quando os desejos não são realizados, ou acontece algo que não queremos, ficamos frustrados e tristes (queda da vontade), ou com raiva (transformação da vontade), ou tudo isso junto (o controle e a raiva serão avaliados a seguir). É importante entender que a vontade e a raiva são essencialmente a mesma energia de ativação do sistema mental, mas em vibrações diferentes. A vontade é a ativação canalizada e livre para agir, enquanto a raiva é mais caótica e enfrenta algum bloqueio ou barreira. A vontade também pode ser dividida em baixa, média e alta. A vontade está relacionada principalmente com as vantagens, qualidades e benefícios e relativamente pouco associada ao nível de problemas que a pessoa tem com o seu jeito de ser. As pessoas que se percebem com mais benefícios com seu jeito de ser tendem a ter a vontade alta, mas como para as outras emoções, não há perfil que só tenha vantagens e não tenha problemas.

Vontade baixa

A avaliação apontou que o seu nível de vontade é baixo.

Esse perfil traz as características de pessimismo, pouco entusiasmo e prazer nas atividades, pouco interesse por novidades, tendência a desanimar e a desistir dos objetivos, insegurança e indecisão. A falta de ativação mental também pode chegar a afetar a concentração e atenção. As vantagens do perfil de baixa vontade são poucas. A maior vantagem é a tendência a não se envolver nos problemas que o desejo tende a gerar para ser saciado. A vontade baixa dá um tom de pouca esperança e otimismo, o que é adaptativo quando as situações são de fato sem saída ou muito difíceis. Desistir de algo que não tem como dar certo ou nem investir em algo que vai fracassar é bom, mas em geral não há como saber isso de antemão. Outro aspecto favorável da baixa vontade é que esse perfil tende a não inspirar competitividade nos outros. Pelo contrário, muitas vezes tendem a querer ajudar ou botar pra cima quem tem baixa vontade, por perceberem sua modéstia ou auto-estima baixa. No longo prazo, porém, isso pode cansá-los. De modo geral, a baixa vontade deixa a pessoa mais branda (se a raiva não for alta) e, portanto, gera menos atrito quando em grupo, mas as relações sociais também dependem muito de outros fatores. Se o mundo tivesse só pessoas com baixa vontade, menos conquistas teriam sido feitas, mas por outro lado são exatamente essas conquistas e avanços que impõe riscos à humanidade como um todo. Em outras palavras, a ganância é um “efeito colateral” do excesso de desejo e vontade, e quem tem menos desejos está mais protegido disso, ou seja, pode ter certo desapego pelas coisas, que é um dos pilares do budismo. Apesar da baixa vontade até proteger de algumas situações problemáticas, o maior impacto vem da falta de benefícios e vantagens associado a esse perfil. Principalmente na sociedade atual, a motivação, a proatividade, a competitividade e a auto-estima são muito valorizadas, talvez até demais. Assim a deficiência de vontade faz com que haja pouca energia para investir em novas situações, buscar ativamente oportunidades e aproveitar o que tem, já que a sensação de prazer tende a ser mais baixa. A insegurança e a indecisão podem fazer com que se deixe de aproveitar boas oportunidades. Esse perfil tem baixa competitividade em geral e, portanto, se adaptam melhor em situações com poucos desafios ou mais rotineiros. Do ponto de vista de transtornos psiquiátricos, a vontade baixa aumenta o risco de se desenvolver sintomas depressivos, de fobia social e de desatenção. Para muitas pessoas a vontade não é exatamente baixa, mas é muito instável (geralmente nesses casos a raiva é média ou alta e/ou o controle é baixo). Isso gera instabilidade de humor, já que a vontade é o alicerce do humor, e essa oscilação afeta a auto-estima, a confiança e o crédito pessoal. A vontade baixa pode proteger do desenvolvimento de transtornos relacionados a excessos comportamentais em compras, jogo e drogas de abuso, mas principalmente se a raiva for baixa e o controle for alto (ver a seguir). Alguns podem usar drogas buscando o aumento de estímulos para suprir sua deficiência de vontade. A lapidação desse temperamento exige, pelo menos inicialmente, vencer a resistência interna e remar contra a maré. À medida que algumas conquistas são atingidas, pode se criar um círculo virtuoso que gera mais vontade e iniciativa. Mas é preciso buscar pontos de apoio que ajudem a não desistir frente aos primeiros obstáculos. Às vezes uma boa estratégia é tentar fazer parte de um grupo que opere coordenadamente e que sirva como estímulo para manter a atividade. Para algumas pessoas, passar a fazer atividades mais competitivas ou agressivas (por exemplo, um tipo de luta), pode aumentar a vontade.

 

Controle

O controle é a capacidade de realizar as tarefas relacionadas ao dever. O controle entra em ação para agirmos quando não temos vontade e para limitar as ações impulsionadas pelo desejo. A capacidade de controlar a ativação mental faz com que ela seja expressa mais na forma de vontade do que de raiva, e ajuda a tolerar as frustrações. Dessa forma, o controle exerce uma grande função de regulação emocional. O controle confere a capacidade de se organizar e se concentrar nas tarefas, mesmo nas situações mais tediosas. O controle também está associado à harmonia social e a cooperatividade, que requerem funções mentais elevadas, como perceber o que é melhor para o grupo e como os outros estão se sentindo nas diversas situações. O senso de dever tende a favorecer o outro ou o grupo em detrimento de si, e assim aumenta a cooperatividade entre os indivíduos. Por essas razões, em geral o controle está associado a vantagens e a falta de controle tende a gerar problemas.

Controle baixo

A avaliação apontou que o seu nível de controle é baixo.

Esse perfil traz as características de pouca concentração, foco, atenção, disciplina, organização, responsabilidade e conclusão de tarefas, principalmente as mais longas e entediantes. São poucas as vantagens do controle baixo. Em algumas circunstâncias pode ser vantajoso agir de modo menos padronizado ou “certinho”, passando uma sensação de desprendimento e independência de algumas regras sociais. Quando as tarefas relacionadas ao dever, como prazos e horários, são pouco necessárias ou valorizadas no contexto, o controle baixo gera menos problemas. Em algumas situações, o controle baixo pode ser vantajoso por favorecer um tipo de pensamento mais original ou inusitado, que pode ser desenvolvido e colocado em prática por pessoas com mais controle, ou pela própria pessoa se for em uma área em que goste de atuar. A falta de controle tende a gerar desvantagens e problemas particularmente quando há muitos deveres a serem cumpridos. Isso pode se manifestar já nos primeiros anos de escola, e apesar de geralmente haver uma melhora no começo da idade adulta, ainda pode ser um entrave para o crescimento pessoal e profissional em ambientes mais rígidos e exigentes. A deficiência de controle seguidamente acompanha alguma instabilidade de humor e a falta de direcionamento sobre o que deve ser feito, como e quando. Essa característica faz com que se deixe tudo para a última hora, e muitas vezes o tempo que resta não é suficiente para fazer a tarefa bem feita. Em um grupo social, a falta de atenção e capacidade de perceber sutilezas dos outros faz com que alguns atos sejam considerados “sem noção”. Ao perceberem a razão do erro foi não se dar conta do que fez ou do que deveria ter feito, são mais facilmente perdoados, mas no longo prazo isso costuma cansar os que convivem com quem tem baixo controle. Com o tempo, cai o crédito pessoal perante os outros, podendo gerar prejuízos pessoais e sociais. Em casos mais extremos, o baixo controle provoca comportamentos opositivos por não perceber o que deve ser feito ou não conseguir levar em conta a vontade do outro ou do grupo. Isso acontece particularmente quando o medo é baixo e a raiva, alta. O medo médio, a vontade alta e a raiva baixa atenuam as conseqüências do controle baixo. Do ponto de vista de transtornos psiquiátricos, o baixo controle aumenta o risco de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno opositivo desafiador, ciclotimia ou instabilidade de humor (bipolaridade), abuso de drogas e transtorno de explosividade intermitente. O controle baixo pode proteger do desenvolvimento de alguns tipos de TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) e da anorexia nervosa. A lapidação desse temperamento não é fácil, e muitas vezes o que funciona é usar estratégias que compensem a falta de controle. Uma das saídas é buscar fazer o que gosta, ou seja, não ter que depender muito do senso de dever para produzir. Atividades mais dinâmicas podem atrair mais a atenção. Quanto à organização, uma boa estratégia é poder se associar com alguém que naturalmente seja mais disciplinado e ajude a monitorar o que tem que ser feito. Outra possibilidade é fazer um esforço para usar agendas e lembretes que ajudem a cumprir os compromissos. De modo geral, é melhor buscar atividades com maior flexibilidade em relação a regras, horários e prazos.

Raiva

A raiva é o produto dos desejos e vontades não realizados. A vontade (ou desejo) e a raiva são expressões diferentes da uma mesma força de ativação mental. A raiva surge quando algo acontece contra a nossa vontade. Algumas vezes ela emerge em função de algo que não queríamos que acontecesse, como por exemplo, quando nos roubam ou furam a fila na nossa frente. Outras vezes, é quando queremos muito que algo aconteça e há um bloqueio, como quando o nosso time erra um pênalti ou quando queremos chegar a algum lugar e o trânsito nos impede. A ativação mental, quando se manifesta sem bloqueios e é canalizada a um objetivo, é a própria vontade. Quando é barrada ou está caótica, é raiva. A raiva também pode ser canalizada exatamente contra a barreira que se opõem à vontade com o objetivo de destruí-la ou dominá-la. Mas nem sempre isso pode ser feito. A raiva é, entre as emoções básicas, a maior geradora de problemas. Ela corrói por dentro e por fora. No longo prazo, faz o raivoso desgastar seus pontos de apoio e seus vínculos, deixando-o só e sem suporte. E como a arrogância e desconfiança fazem parte da raiva, a culpa costuma ser dos outros. O lado bom da raiva é a força para conquistar posições mais altas hierarquicamente e para se defender de agressores. Uma das principais funções da raiva é justamente tentar remover o que bloqueia a realização da vontade e dos objetivos. Infelizmente, muitas vezes a raiva gera outra reação oposta também forte, já que ninguém gosta de lidar com a raiva alheia. Como é uma emoção quente e desmedida, facilmente sai do controle e pode atingir níveis muito perigosos, principalmente com medo e controle baixos. Assim como para as outras emoções básicas, algumas pessoas têm uma tendência maior a sentir raiva, ou seja, ela determina características do temperamento. As pessoas mais equilibradas e estáveis têm como marca a baixa raiva. A arte em relação à raiva está em expressá-la nos contextos adequados, com intensidade proporcional ao fato e de modo que facilite a busca de soluções dos embates.

Raiva Média

A avaliação apontou que o seu nível de raiva é médio.

Esse perfil traz algumas características de irritabilidade, explosividade, impaciência, agressividade, assim como propensão a ser desconfiado, rancoroso e vingativo. Do ponto de vista social, a pessoa com raiva média pode ser percebida como intolerante e dominadora em alguns contextos. A vantagem do perfil de raiva média é poder contar com a sua força em situações em que se é desafiado ou agredido, o que protege o próprio território. Em outras circunstâncias, um pouco de raiva favorece a conquista de novos territórios. Mas essa capacidade de defesa e ataque muitas vezes produz outras perdas e também coloca o indivíduo em situações de risco e desadaptação social. Por estar associada com algum grau de desconfiança, há uma facilidade em identificar precocemente quem pode lhe prejudicar, mas algumas vezes pode considerar como inimigo ou tratar mal alguém que não lhe quer mal. Em outras palavras, a desconfiança protege, mas também pode isolar o indivíduo. As desvantagens da raiva média ocorrem quando ele é mal aplicada, seja pela intensidade desproporcional, seja pela freqüência em que se manifesta. No longo prazo, os efeitos da raiva média podem ser deletérios para as relações afetivas e sociais. A reação de raiva deixa as pessoas em torno inicialmente assustadas, e com a repetição, traumatizadas. Assim, a tendência é o afastamento dessas pessoas ou a perda da naturalidade nas relações. Quando se trata da relação com um outro raivoso, a conseqüência é o surgimento de discussões, desacertos e brigas. Como a intensidade tende a ser alta, e ambos tendem a ser orgulhosos e rancorosos, às vezes basta uma forte desavença para rachar a relação de modo irreparável. A raiva também está associada à forte combatividade, e é a base da inveja. As pessoas de raiva média também tendem a ver o mundo em um formato tudo-ou-nada ou 8 ou 80 em algumas situações, principalmente emocionais. Esse padrão de pensamento também pode se manifestar ao rotular pessoas ou situações de maneira dramática e instantânea. Como muitas coisas são contínuas e graduais, a pessoa pode ficar meio fora de sintonia com o ambiente e com a visão dos demais. Do ponto de vista de transtornos psiquiátricos, a raiva média confere um risco maior de transtorno de humor bipolar, transtorno de explosividade intermitente, bulimia, os transtornos de personalidade borderline, , narcisista, histriônico, antisocial e paranóide, excessos comportamentais (compras, jogo, direção agressiva) e abuso de drogas. No entanto, muitas vezes em torno dos 40 ou 50 anos a raiva pode surgir ou aumentar e aí sim algum transtorno pode surgir, como depressão agitada, que pode ser considerada como parte de um quadro de bipolaridade do humor. A lapidação da raiva média passa por transformar a energia de ativação da raiva, que destrói mais do que constrói, em vontade, que constrói mais do que destrói. O caminho para se conseguir isso é canalizar a energia a um objetivo produtivo e aumentar a capacidade de controle. As perguntas a serem feitas são “o que está bloqueando a realização dos meus desejos ou a conquista dos meus objetivos” ou “o que está acontecendo contra a minha vontade”? Uma vez identificadas as barreiras, o ideal é elaborar um bom plano de ação, com alternativas e flexibilidade para resolver as questões. A canalização da energia pode se dar tanto em mudanças no tipo de atividade que exerce ou em fazer algum hobby, que pode ser um esporte, atividade física aeróbica ou uma atividade artística. Assim, a energia represada vai fluindo de maneira produtiva, reduzindo a pressão interna. No plano mental, a maneira de atenuar a raiva é monitorar os pensamentos extremados, do tipo tudo ou nada, e buscar a ponderação em cada situação. A inclusão de uma opção “mais ou menos” ou “neutro” na hora de avaliar os eventos já enriquece e aperfeiçoa muito o padrão mental de quem tem propensão à raiva. Outro aspecto importante a ser desenvolvido é a capacidade de remendar os estragos feitos pela raiva. Isso se consegue com o aumento da comunicação com as pessoas, particularmente em uma posição de “guarda baixa”, que favorece o pedido genuíno de desculpas. Muitas vezes quem age com raiva se arrepende do que fez, mas o orgulho não deixa reparar os danos. Portanto, reduzir o orgulho, pedir desculpas e valorizar o outro é um caminho que diminui o impacto negativo da raiva. Quem tem a raiva média frequentemente consegue ter ou desenvolver essa capacidade.

Sensibilidade

A sensibilidade se refere a quanto alguém se abala frente a situações difíceis da vida, ou seja, o impacto que as adversidades causam na pessoa. Os fatores que levam a esse desgaste podem ser de várias naturezas, como estresse no trabalho, situações de pressão, frustrações, eventos traumáticos, mas também incluem as relações pessoais, como críticas e rejeição por partes de outros. A tendência a se culpar e a dependência de aprovação dos outros também são manifestações de sensibilidade alta. No contexto usado aqui, a sensibilidade está relacionada à vulnerabilidade, e não no sentido de ter uma percepção aguçada, ou uma sensibilidade artística. Portanto, a sensibilidade alta nesse teste indica dificuldades e problemas em lidar com eventos desagradáveis e adversos.
Uma vez abalado por algum estressor, a capacidade de recuperação tem a ver com outras dimensões emocionais, principalmente com a vontade alta, mas o medo baixo, a raiva baixa e o controle alto também favorecem a recuperação.

Sensibilidade alta

As pessoas com sensibilidade alta são um tanto vulneráveis às “pancadas” da vida e se abalam bastante quando há algum atrito pessoal mais relevante. O limite pessoal de suportar tensões interpessoais e situações difíceis é frequentemente ultrapassado, gerando danos e sofrimento. Mesmo eventos cotidianos ou de ordem menor costumam afetar e, se forem continuados, provocam uma baixa na resistência.
Há uma clara dificuldade em se lidar com estressores fortes e situações de pressão mais alta. Para tolerar esses momentos é necessário apoio externo e pausas para recuperação. Portanto, há um preço alto a pagar quando ficam sujeitos ou se colocam em situações complexas, difíceis e imprevisíveis. Além do desgaste e os prejuízos pessoais subjetivos, o rendimento e o resultado final podem deixar a desejar nessas situações adversas.
A sensibilidade alta gera inteferência nas relações pessoais, tanto próximas (família, amigos) como mais distantes (colegas), por se sentir afetado ou magoado mesmo com pequenos atritos ou tensões. Em outras palavras, a mágoa acumula e se mistura com os outros sentimentos pelas pessoas. Quando combinada com raiva média ou alta, os problemas tendem a ser maiores por haver uma alta reatividade emocional e dramática, com reclamações e cobranças em excesso.
Uma das maneiras de lidar com a sensibilidade em excesso é esperar menos dos outros e dos resultados. A expectativa alta é o território fértil para a frustração e a decepção. A sensibilidade também está ligada a precisar de aprovação dos outros para se sentir bem. Dessa maneira, a pessoa fica mais vulnerável e dependente, ao invés de puxar para si a responsabilidade de atribuir o seu próprio valor. É melhor se ver como se é, aceitando suas qualidades e buscando lapidar os defeitos, do que esperar e contar que alguém reforce a idéia de que se é perfeito. A dependência emocional deixa a pessoa à mercê do que os outros pensam dela, e em casos mais graves, se não houver um reforço positivo por parte do outro, isso é interpretado como rejeição. É importante entender que ninguém tem o dever de suprir as carências alheias. Em outras palavras, a auto-aceitação e o contato mais profundo consigo mesmo são necessários para se diminuir a sensibilidade, principalmente nas relações pessoais.

Temperamento Ansioso

O temperamento ansioso (ou fóbico) tem como base o medo alto. Em geral a vontade é média ou baixa, o controle é de médio a alto e a raiva é de média a baixa.
A mente funciona de forma semelhante a um carro, com acelerador e freio independentes. A vontade é como se fosse o acelerador e o medo é o freio. A velocidade final do carro seria o padrão de humor ou temperamento afetivo. Assim, no temperamento ansioso o que chama atenção é freio exagerado, portanto a velocidade final e o humor tendem a ficar em um nível mais baixo. Isso é particularmente verdade se, além do medo alto, a vontade for baixa.
O temperamento ansioso apresenta as características de tendência à cautela, aversão ao risco, inibição, respeito às regras, preocupação com problemas reais e potenciais, planejamento e visão realista do mundo. Se o nível de vontade for baixo, há maior tendência à melancolia, pessimismo, insegurança, auto-estima baixa e timidez. Se a vontade for alta, o humor é bem menos afetado pelo medo, mas são pessoas que tem seguidamente uma sensação de ambivalência ou indecisão, já que o medo costuma acompanhar os desejos.
As pessoas com esse perfil geralmente consideram seu temperamento associado a problemas de grau moderado, mas, por outro lado, também percebem algumas vantagens e benefícios no seu jeito de ser. De fato, o perfil cuidadoso, principalmente se associado à responsabilidade e planejamento do controle alto, faz com que seja capaz de executar tarefas com poucas falhas. Os trabalhos que mais se ajustam ao temperamento ansioso são de baixa intensidade, mas que exigem regularidade, responsabilidade e boa detecção de potenciais problemas. Muitas pessoas desse temperamento têm uma natureza dedicada que é muito adaptativa para trabalhos sociais, e podem ser muito produtivas, principalmente se o controle for alto.
No plano intelectual, o temperamento ansioso se destaca pela capacidade de identificar os problemas e riscos do mundo real e pela capacidade de tomar as precauções necessárias. Ao mesmo tempo, se a vontade não for baixa, não deixa de perceber aspectos positivos e oportunidades. Como as experiências negativas tendem a ficar fortemente marcadas na memória, os ansiosos tendem a aprender com os erros e, assim, não os repetem. O problema é quando essa experiência adquire um valor maior do que o necessário e a vivência negativa é sentida como traumática demais. Dessa forma, o comportamento fica distorcido e o comportamento evitativo pode tomar conta.
Os ansiosos não costumam errar por excesso, a não ser por excesso de cautela. A boa percepção de riscos faz com que o ansioso tenha maior vantagem quando o ambiente está por entrar em crise por cauteloso e rápido a tomar atitudes conservadoras. Os ansiosos costumam se destacar mais pela sua capacidade executiva do que pela capacidade criativa.
Nas relações, o temperamento ansioso pode ter dificuldade de estabelecer vínculos afetivos, mas depois que o faz, tendem a ser duradouros. Esse é um perfil de muitas pessoas devotadas, cuidadosas e dedicadas ao outro. Tendem a ser fiéis e companheiras, mas podem também ser controladoras.
É importante buscar maneiras de atenuar os traços mais disfuncionais desse temperamento se a pessoa não estiver bem adaptada ao seu ambiente e ao seu círculo social. Psicoterapia e psicofármacos podem ser úteis para reduzir o medo, mas é muito importante tomar consciência de que será necessário esforço e dedicação para atenuar os traços mais negativos desse freio excessivo. Os pensamentos mais pessimistas e a cautela excessiva devem ser questionados e colocados à prova. Na dúvida, devem ser testados e os resultados desses testes devem ser levados à sério e de forma direta. Por exemplo, se há uma preocupação excessiva com alguma coisa, mas o pior nunca acontece, a princípio é assim que deve continuar. Uma vez tomadas as precauções, é hora de relaxar. À medida que os resultados positivos são levados em conta, pequenas mudanças de postura e de comportamento podem ser adotadas, que por sua vez direcionam a outros resultados mais positivos.

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