Reprogramando o Subconsciente 02 - Admitindo a Raiva 01 - Criatura Maléfica

Estou com os olhos inchados, quase fechados de tanto que chorei ontem à noite. E a peste mal humorada só torna tudo pior. Idiota, cretina. Que vá lamber a criatura maléfica, deve ter sido pra isso que nasceu. Mesquinha, egoísta. Não me importo mais, não mesmo.

Vou aproveitar já que estou para baixo e externizar essa raiva, esse rancor que me faz tão mal. Maldita criatura maléfica, minha pior inimiga, minha juíza e minha carrasca. Ela me fez sentir o pior verme da face da terra, me fez acreditar que eu não tinha direito a nada, que eu não podia ser nada. A culpa é minha porque eu deixei? Eu era uma criança, eu não sabia me defender. Eu fui tolhida, espezinhada, massacrada desde a mais tenra idade por ela. Adotada, jogada fora, suja. E eu pus a minha vida nas mãos dela. E ela me acusou, me julgou, me condenou e me puniu pelo que eu não fiz. Eu não fiz. A ela eu nunca fiz nada, nada, nunca, nenhum mal. Eu fiz mal para muitas pessoas, mesmo sem querer, sem premeditar eu fiz, mas pra ela nunca e isso aumenta a minha raiva. Raiva? Não, é muito mais, é um ódio tão grande, tão profundo que eu vou sentir até o último dia da minha vida, e se eu tiver mais mil vidas por mais mil vidas eu vou odia-la. Maldita, mil vezes maldita. 

 Eu podia ter me vingado um tempo depois, uma oportunidade perfeita de devolver um pouco do mal, ela podia ter sido execrada, até presa mas isso sequer passou pela minha cabeça na época, eu não tinha malicia pra isso. Eu era só um verme sem força pra nada, nem pra pensar.

E o pior de tudo é que eu ainda tenho medo dela, doí escrever isso mas é a verdade, eu tenho medo, eu sei que ela ainda é mais forte do que eu e eu não suporto a crueldade dela. Eu a evito, aprendi a não enfrenta-la porque eu sempre saio perdendo.

Eu sei que nunca vou esquecer, que nunca vou deixar de odia-la mas eu tenho que tirar da minha mente as mentiras dela. Eu tenho que me convencer que aquele ser bonito que eu amava só existia na minha mente infantil, ela sempre foi um monstro. E o monstro se divertia com a menininha iludindo-a, prometendo-lhe uma vida melhor. - Eis a vida que ela te deu querida: - desprezo, solidão, dor, sujeira, toda espécie de podridão que a sua mente podre pode conceber.

Eu não devo nada a ela, nada, não espero nada dela e nada que vem dela me importa agora. Eu sei que não tenho culpa, que eu fui uma vítima de sua perversão, de sua mente doentia. O que me doí é o que passou, o que eu deixei ela fazer comigo mas quanto a isso não há nada a fazer. Eu tenho que me perdoar. Eu me perdoo? Não sei.

Eu sei que só há uma maneira de vence-la, é sendo feliz, é conseguir o que ela não conseguiu, é realizar o meu Plano A.

Esse ódio geralmente dorme e eu esqueço que ela existe e assim voltará a ser. Ele dormirá e eu vou tirar do meu subconsciente todas as mentiras dela, todas as mentiras a meu respeito que ela inventou e eu acreditei. Eu vou ser feliz porque eu mereço. Eu vou realizar cada pedacinho do meu Plano A porque eu mereço. 

Raiva externizada, controlada, adormecida, trancada.