terça-feira, 13 de outubro de 2015

A Fonte

Depois de dias, dias e dias de chuva, um cinza quase infinito, o sol de novo. Amo. Ontem fecharam a última comporta do rio, rio que não é rio, quase transbordando, uma imensidão de água suja, água que se toma, água que recebe os dejetos humanos e toda espécie de lixo. Não gosto de água, me apavora, mais do que fogo. Mas são bonitos os rios e as cachoeiras e as fontes. A fonte, lá no meu lugar preferido, tão linda, acho que não existe mais, lembro dela, de seus detalhes, suas transformações, linda, linda, só na minha lembrança. Vou desenha-la um dia, pinta-la talvez. O lugar deve estar agora cheio de casinhas feias, de gente feia, de sentimentos feios, as árvores cortadas, as trilhas calçadas, cheio da feiura humana em todos os cantos. E ela? Sua terra terá sido coberta de pedras? Sua água escorre entre pedras? Terá ficado isso pelo menos? Um fio de água entre pedras ou escorrendo pelo cimento? Eu a queria mais, não para mim, porque eu a tenho, sempre tive, sempre terei, eu a queria para ela, para que existisse para sempre ou enquanto quisesse, ali, exatamente ali, no seu lugar, no  meu lugar. 

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